Relações sociais entre jovens educadores e adultos em alfabetização no profasa na Cidade de Maputo

Abstract

A inserção da Sociologia da Juventude no campo teórico da Sociologia Geral é um exercício relevante de se realizar. Sobre uma perspectiva teórica que combina a abordagem da Sociologia da Juventude e de campo cultural, desenvolvemos o presente trabalho com o objectivo de compreender as mudanças nas relações entre jovens educadores e adultos educandos no âmbito da Alfabetização em Família, levada a cabo pelo Programa Família Sem Analfabetismo e Sem HIV/SIDA no distrito de KaMavota, em Maputo. Sustentamos que a posição ocupada pelo educador jovem conduz a novas formas de relacionamento com o adulto na posição de alfabetizando. A teoria de campo permitiu representar o Programa Família Sem Analfabetismo e Sem HIV/SIDA e a família campos culturais, constituídos por posições ocupadas por jovens educadores e por adultos alfabetizados. Adoptamos uma abordagem metodológica qualitativa e, como estratégia de investigação, complementamo-la com o estudo de caso. As entrevistas individuais e em grupo possibilitaram a recolha de dados através de conversas directas com 30 entrevistados, nomeadamente jovens educadores, jovens não educadores e adultos alfabetizados. A Alfabetização em Família é um meio para elevar jovens à posição de educadores. E este programa está a ser implementado em ambientes familiares inicialmente caracterizados por relações assimétricas e de dominação, em que o adulto é socialmente representado como dominante, responsável e educador, e o jovem como subalterno, irresponsável e objecto de educação adulta. A entrada para o Programa Família Sem Analfabetismo e Sem HIV/SIDA, em alguns casos observados, não teve efeito tanto nas representações sociais de adulto e jovem quanto nas relações sociais intrafamiliares entre esses actores; noutros, conduziu a representações sociais do jovem como responsável e educador e o adulto como susceptível de ser educado e irresponsável, favorecendo a elevação do status do jovem educador e abrindo espaço para as relações dialógicas e do respeito mútuo; pois, as relações sociais entre educadores e educandos podem desencadear efeito ou mudança nessa relação